terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Velhice - Carlos Drummond de Andrade


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Os ventos - Bob Marley

A covardia - Bob Marley

A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la.

A violeta mais bela que amanhece - Luíz Vaz de Camões



A violeta mais bela que amanhece
no vale, por esmalte da verdura,
com seu pálido lustre e fermosura,
por mais bela, Violante, te obedece.


Perguntas-me porquê? Porque aparece
seu nome em ti e sua cor mais pura;
e estudar em [teu] rosto só procura
tudo quanto em beldade mais florece.

Oh! luminosa flor, oh! Sol mais claro,

único roubador de meu sentido,
não permitas que Amor me seja avaro!


Oh! penetrante seta de Cupido,
que queres? Que te peça, por reparo,
ser, neste vale, Eneias desta Dido?

Retrato do poeta quando jovem - José Saramago



Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.


Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.


Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.


Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.